O post de hoje vai falar sobre um dos poucos carros conhecidos por muitos brasileiros, o Emme Lotus 422T:
Seria ele o primeiro “super carro” brasileiro?
Trata-se de um modelo que muita gente talvez nunca tinha ouvido falar, e sua história é um tanto intrigante, pra não dizer “cabeluda”. Tudo começa em 1996 quando o então editor do site Best Cars Web Site Fabrício Samahá avista um protótipo de cor azul-escuro, semelhante as linhas atuais do carro, rodando na região do Vale do Paraíba, mais precisamente em Pindamonhangaba, interior de São Paulo, distante 150 Km da capital. Pouco tempo depois, trabalhando para uma revista do gênero automotivo, ele obteve imagens de um outro modelo, desta vez de cor cinza e com placas azuis (indicando veículo em teste pelo fabricante) e publicadas em dezembro do mesmo ano.
A sigla 422T indicava a motorização do carro
Na traseira havia um logotipo da Lotus (que naquela época pertencia a Proton da Malásia, e esta hoje pertence a petrolífera estatal Petronas), confirmando assim as suspeitas de que o modelo usava mecânica Lotus. O motor era o mesmo que equipava o modelo Esprit S4, até então considerado sucata (!!!) pela Lotus. Logo digo o porque…
A carroceria era feita de um polímero chamado VexTrim, patenteado na Europa, e tinha porte semelhante ao Chevrolet Omega. Seu desenho trazia detalhes modernos, como os faróis superelipsoidais, mas seu estilo estava longe de agradar a grande maioria. Era disponíveis nas versões 420 e 420T, sendo de 4 cilindros aspirado e turbo respectivamente, e o 422T, de origem Lotus. O código indicava o numero de cilindros (4) e a capacidade cúbica do motor (2.0 e 2.2, além do “T” de Turbo). Dizem que os motores 420 e 420T foram feitos na fábrica da Emme em Pindamonhangaba, mas a semelhança nas medidas de diâmetro e curso dos pistões (82,5 x 92,8 mm respectivamente) e o formato do motor eram os mesmos do Volkswagen AP-2000! Já no caso dos motores Lotus a coisa é um pouco pior…
Cambio longo e baixa pressão na turbina deixavam o carro “molenga”
Quando eu disse que os motores fornecidos pela Lotus eram praticamente sucata é porque realmente eram, em sua maioria: além de não serem mais interessantes para a Lotus (pois haviam desenvolvido um V8 Biturbo de 3.5L e 350 HP para o então Esprit S4S), os motores 910S com 16 válvulas e turbo que vieram, mais ou menos 10 deles, estavam com os mais variados problemas, alguns até com parafusos enrustidos! Dizem que de 10 motores, apenas 2 vinham em perfeito estado. Isso quando não apresentavam problemas elétricos e eletrônicos causando um apagão geral no carro. Outra coisa que “amarrava” o carro era o cambio da Borg Warner, do Ford Mustang V8, que era longo demais para o Emme. Junto disso tinha o problema do Turbo-Lag, que é a falta de ação do turbo em baixas rotações, e isso deixava o carro difícil de guiar. Com pressão de 0.8 bar. na turbina, um Garret TB03 refrigerado a água, o carro só andava bem em rotações altas. Vários componentes vieram de carros diferentes: assim como o motor Louts, tinha também diferencial Hypoide auto-blocante PowerLock vindo de alguns modelos da Jaguar, ambos vindos da Inglaterra, mas também tinham componentes que, pasmem, vinham desde o Ford Escort “europeu” (faróis de milha e piscas nos pára-choques) e até do então fora de linha Chevrolet Opala, além de muitos outros. Um verdadeiro Frankenstein!
O desenho da carroceria é praticamente cópia do protótipo Volvo ECC de 1992
As desarmônicas linhas da carroceria, com linha de cintura bem saliente, lembram as do Volvo ECC (Environmental Concept Car, carro-conceito ecológico) apresentado no Salão de Paris de 1992, que depois em 1998 viria a ser o Volvo S80. Ou seja: ambos os carros foram baseados no desenho do mesmo conceito. Ainda falando da carroceria, esta é uma parte onde a dor de cabeça era maior: as peças plásticas não tinham tolerância dimensional. Cada peça moldada era diferente de outra do mesmo tipo. Não adiantaria, por exemplo, comprar um conjunto de lanternas traseiras para manter em estoque porque, para montar uma no lugar da outra em caso de acidente, seria necessária uma lanternagem de ajuste, com tentativas e desbastamentos antes da pintura. O mesmo acontecia com o capô, tampa do porta-malas e portas. Um verdadeiro “quebra-cabeça!”.
Houve um caso de uma usuária paulistana que teve a suspensão dianteira do carro quebrada em uma avenida, sem maiores conseqüências. E alguns meses mais tarde, um acidente pôs fim a este mesmo Emme, dado como perda total pela seguradora. Antes do estrago da suspensão, porém, ela só tinha a reclamar da baixa altura em relação ao solo e do desgaste prematuro da embreagem.
Peças que não se encaixavam e motores “enrustidos” eram alguns de seus problemas
O fabricante desse carro era a Megastar Veículos, que era um braço empresarial do então grupo proprietário chamado New Concept Aktiengesellshaft, de Vaduz, Liechtenstein, na Europa, tendo como presidente Francesco Hurle que, na época, morava em Lugano, na Suíça. Antes disso, a fabrica fazia scooters que foram bem aceitos no inicio, mas que com a alta do dólar em janeiro de 1999 naufragaram junto com o projeto Emme em dezembro do mesmo ano. Foi fabricado entre 1997 e 1999, no município paulista de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, com índice de nacionalização de 87%. Algumas de suas peças eram importadas, mas havia a planos para nacionalizá-las também.
Alguns técnicos da Lotus chegaram a vir para o Brasil para adequar o motor as normas brasileiras. O processo de construção utilizava máquinas que injetavam 160 moldes com apenas dois operadores, o que permitia a construção de um carro em apenas 12 minutos. Na parte mecânica conta com suspensão independente nas quatro rodas, com múltiplos pontos de ancoragem, duplo quadrilátero e barra de torção, sendo a traseira com eixo auto-direcionável. Tudo desenvolvido no Brasil, menos o conjunto motriz (motor e cambio, esses importados)
A fabrica, que também fazia scooters, fechou as portas em dezembro de 1999
Para a fabricação do Emme 422T, dizem que foram investidos mais de US$ 156 milhões, mas pelo que foi apurado o investimento mal chega a 15 milhões. Até a prefeitura deu incentivos a empresa, cedendo terreno e isenção de impostos por algum tempo, mas foi tudo em vão. No período em que esteve em atividade estimam-se que foram produzidas de 12 a 15 unidades deste carro apenas. Suas pretensões eram grandes: a fábrica visava exportar algumas unidades para a Europa para tentar concorrer com os sedans esportivos de lá, mas por não ter um sistema adequado de segurança, como freios ABS e Air Bags por exemplo, seria barrado logo de cara pelo EuroNcap, órgão de segurança automotiva da Europa. A empresa chegou a rodar com um protótipo nas ruas de Milão, Itália, Monte Carlo e Mônaco, e retornando ao Brasil em seguida, tudo mostrado neste vídeo:
Bem antes de encerrar as atividades a fábrica já andava “mal das pernas”. No seu ultimo ano de funcionamento contava com apenas 3 funcionários na área administrativa e apenas 2 na fabrica!
Antes de fechar havia no site deles um desenho de um mini carro urbano que eles pretendiam fabricar, mas que na verdade eram desenhos do que seria o novo Mini que conhecemos hoje que haviam sido divulgados em algumas revistas!
Alguns dados foram apurados por um ex-dono de um Emme Lotus, o S.r.. Ronaldo Franchini. Todo o material está no site Best Cars Web Site. Ele chegou a criar um site para aproximar proprietários desses veículos, mas meses depois ele abandonou o projeto vendendo seu Emme a um colecionador.
No YouTube há alguns vídeos sobre o Emme Lotus, como o mostrado acima, mas os vídeos abaixo mostram mais sobre a trajetória desse veículo. O “arqueólogo automotivo” Indiana Gomes (o nome verdadeiro é Flávio Gomes) gravou uma matéria para seu programa “Antigos” no canal pago ESPN Brasil sobre o Emme. Confira:
Parte1:
Parte2:
As fotos deste 422T prata foram tiradas e enviadas por Maximiliano Moraes, editor do blog RACIONAUTO (clique no nome do blog para conhecer!)
Ficha Técnica:
Motor | Dianteiro, Lotus 910S, em alumínio com camisas em Nikasil e 4 pistões em alumínio forjado cromado. Cabeçote em liga de alumínio com 16 válvulas duplo comando de válvulas, quatro válvulas por cilindro. |
Cilindrada | 2.174 cm³ |
Diâmetro x Curso | 95,3 mm x 76,2 mm |
Taxa de compressão | 8,0 : 1 |
Potência máxima | 264 HP @ 6500 RPM |
Torque máximo | 36,1 mkgf @ 3900 RPM |
Câmbio | Borg Warner (do Ford Mustang), manual de 5 marchas sincronizadas, com |
Suspensão | Dianteira - Independente por duplo quadrilátero, com barra de torção, molas helicoidais e amortecedores telescópicos hidráulicos |
Freios | Servo-freio com circuito duplo |
Chassi / Carroceria | Chassi tubular em aço zincado, carroceria em plástico injetado veXtrim® |
Rodas e Pneus | Liga leve; aro15" 7J |
Dimensões | Comprimento: 4,62 m |
Desempenho | Velocidade máx.: 273 km/h |
Curiosamente este carro ainda aparece em alguns dos mais renomados sites de supercarros como o SuperCars.Net e FantasyCars.Com
Em tempo: caso você se interesse em comprar este mico raro modelo eis um a venda aqui
Fontes: Micro site do Emme Lotus 422T e Best Cars Web Site
Fotos: Maximiliano Moraes
Edição: Kiko Molinari Originals®
6 Response to Emme Lotus 422T
kiko,escreve-se para alguma revista cara,tu tem talento.
Valeu ai!
Mas por hora vou escrevendo por aqui mesmo, afinal essa é minha "vitrine" ;)
Abraços
Ass
Kiko Molinari
legal, o meu sogro trabalhou na fabricação desse carro, ele conta cada historia. e ele é mesmo uma cópia do volvo. se quiser saber mais manda um email. alexandremaam@gmail.com
srs. aqui em mogi das cruzes tem um carro deste.
Pertence ao Sr. José, dono do Gingo Freios.
Na época da produção desse modelo, o uso de camisas de cilindro de Nikasil acarretou problemas à BMW por conta do teor de enxofre nas gasolinas brasileira e venezuelana, então se o motor Lotus já não era lá aquelas coisas o problema ficava ainda mais grave por conta da gasolina disponível na República das Bananas.
Te mandei um email amigo, gostaria se possível mais informações sobre o carro
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